sábado, 9 de março de 2013

ameno

Da série de contos Diários em terceira pessoa.
Uma tentativa de literatura. Por que nenhum deles é real. E nenhum deles é fictício.

cama e calças - manu loureiro

Passaram a semana esperando o dia em que iriam se ver.

Semana preguiçosa, de chuva fria, às vezes forte, de trovejar. Mas que deixasse chover. Só conseguiam pensar em como seria bom o dia que estava para chegar, em que poderiam não ter medo da chuva forte, e até sentir o gosto dela partilhando o sono. Desejavam a chuva, para deixar o dia mais bonito pra estarem os dois, um dia em que o frio solitário não teria lugar, em que a preguiça não seria nem de longe o principal motivo para querer ficar na cama...

Passaram a semana esperando o dia de se ver.

E quando chegou, como que por pirraça, o sol abriu. Inundou o tempo, mas não daquela luz bonita que podia inspirar. Inundou o dia de um calor irritante que até sufocava. Lamentaram por horas, resmungaram incansavelmente, vocifereram contra deus e todos os santos pela quase completa frustração dos planos para aquele único dia em que o tempo resolvera não escurecer - para que eles pudessem clarear e colorir.

"Sol, logo hoje?"

Mas ainda assim, passaram o dia esperando a hora de se ver.
E quando chegou, chegou com a noite, com o tempo abafado...

Só que aí já não fazia tanta diferença. Se viram, se olharam, sorriram...

E numa série de gestos cúmplices, sem trocar muitas palavras por entre os olhares, tiraram as roupas, abriram janelas para circular o ar. Ligaram ventiladores a toda potência disponível, perto dos corpos tanto quanto possível...

E sem pesar nenhum esforço, fizeram fazer frio na noite acalorada...
Só pra matar o desejo desmedido de poder se aquecer.

Um ao outro, um no outro.